ÁGUAS



Desabam os homens
e caem-lhes, entre as pernas,
no lombo, na cara,
fogões e trapos
e restos de filhos, trôpegos
da morte
que sempre cai bem aos pobres.
Desabam os homens
e rolam por montanhas de indiferença
entre os risos, os fogos,
os tépidos abraços
que cada iniciar impõe.
Na festa travessa do novo ano,
cascateiam pernas e roupas
deságuam os risos
desfazendo em tripas mortas
e coloridas,
a vida.
Deságuam os céus,
desabam os homens
e as mulheres pretas
sob o resto podre dos festeiros insanos,
a cada ano.
Saramar

8 comentários:

Claudinha ੴ disse...

Olá Saramar!

Fortíssimo poema que retrata as tragédias que o descaso vem fazendo acontecer neste mês de águas. Triste e real.
Parabéns!
Um beijo e um 2011 feliz!

Sônia disse...

Sábia Saramar...perfeitas tuas palavras.


Um beijo!

Chellot disse...

Desabam os homenssim, mas haverá alguém que poderá ergê-los?
Lindo. Beijos doces.

Moita disse...

Ôh! Moça sumida. rss

Denso poema, lindo como sempre, aliás, dizer que seus poemas são lindos é chover no brejo.

Francisco Dantas disse...

Um poema tragicamente belo. Um beijo, amiga.

Luma Rosa disse...

Vida aguada com risos histéricos em festas estéreis. Beijus,

Voodoo disse...

Querida amiga,

O Caracol,
os homens,
são trapos,
na quietude
do tempo.

Tina disse...

Oi Saramar!

Eu sempre "amei" os escritos seus e tenho saudade.

Obrigada pelo doce comentário que deixou no BM no post do Dia das Mães. Lindo, só poderia ter vindo de alguém com a sua sensibilidade.

beijos querida, não some...