SOLIDÃO


Os sinos das igrejas dobram, chamando todas
as pessoas do mundo, menos a mim.
Fico no quarto escuro tantas vezes trancado,
gritando para minha imagem nos espelhos.
Faço acenos inúteis que ninguém vê.
Tento falar a língua dos presentes
e de minha boca só saem murmúrios inaudíveis.
Penso que morri e corro a abraçar o mais
próximo, que me olha assustado.
Ao mesmo tempo, não consigo colocar
minhas mãos nas mãos de ninguém.
Sonho com uma voz antiga que, por mais
que faça, não chega mais aos meus ouvidos.
Tento, tento e não posso me aproximar senão
de minhas próprias sombras, criadas por milhões
de luzes que me cegam e me fazem tão só.

DOR

Hoje, as flores estão tão mortas
quanto o morto por elas coberto.
Nem perfume, nem cor, só a dor.
Que não morre com a morte,
como deveria
mas permanece.
um fantasma vivo