Bem como o horizonte intangível
ou flor que só se abre uma vez por ano,
ou como os deuses que nos governam
mesmo não existindo.
Assim como alguma carta de amor
que nunca chegará e que faz
a vida passar à sua espera.
Com o jeito de um amante imaginário
e suas carícias improváveis.
Ou uma lembrança suave e carregada de paz
que insiste em fugir da memória deixando
rastros, riscos, rabiscos.
Um portão que se abre para um jardim de Monet
ou um pesadelo de Dali.
Um viver entre outras miragens tal
seareiros das palavras em secreto plantio.
Brotos que não se abrem ou frutos
que alimentam outros e outros, quase por acaso,
como se sob uma chuva benfajeza.
Sonhos transportados na madrugada solitária,
silencioso chamado, íntima dor ou cantoria.
Isso é poesia.
Saramar
Imagem: Monet
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