ILHA
Postado por
Saramar
on domingo, março 02, 2008
Entre os decrépitos lares,
esquálidos uivos de cães cadavéricos
imitam os donos de línguas mutiladas.
A fome, o pão, o corpo vendido na praça,
“Vai uma dança por um trocado?
Ou a foto por um centavo?”
Há um temor sobre a terra
que impede o enternecimento,
Em seu lugar, o silêncio...
Só os cães ladram
e esquálidos homens, seus semelhantes,
calam.
Há sombras nas ruas
e nos olhos do soldado
enfim, deixado em paz
para morrer pelo desprezo e a solidão
armas que a guerra não usou.
Sísifo gerou ali todos os filhos
que, em vão, labutam,
dos olhos, a sombra salta
e cobre a boca
que se cala.
Há fome nas ruas,
de vida,
quem sabe, um alimento,
um alento,
a pequena felicidade
da mesa farta, antes que, enfim,
a morte leve o leve menino?
Há em cada esquina, um mágico,
em cada alma, um artista.
só assim se pode ser verdadeiro,
só na arte se pode fingir o mundo
e sua magia.
Sussurrada, em todas as vozes,
uma palavra:
liberdade!
Saramar
(a partir de um documentário de Juan Zapata)
8 comentários:
Saramar,
belo e triste poema sobre uma realidade que nos afeta a todos, diretamente, sem que façamos algo efetivo para mudá-la. Estarão esses meninos pagando por Sísifo?
Beijo. Carinho.
dor
liberdade
abraÇo
lindo e bem forte o poema ...
bjs
os cães ladram e o chicote estala nas costas vergadas dos esquálidos zumbis errantes.
Que a felicidade esteja contigo.
Manuel
È um poema para ler, reler e refletir muito.
"Só os cães ladram
e esquálidos homens, seus semelhantes,
calam."
Somente dessa parte já sairia um belo texto.
Beijos Saramar!
Adorei, Saramar. Um poema de fôlego, bem lapidado por suas chocantes/tocantes metáforas. Beijos.Francisco Dantas
...perfeito...
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