Alguém diz com lentidão:
" Lisboa, sabes..."
Eu sei. É uma rapariga descalça e leve,
um vento súbito e claro nos cabelos..."
Eugénio de Andrade
" Lisboa, sabes..."
Eu sei. É uma rapariga descalça e leve,
um vento súbito e claro nos cabelos..."
Eugénio de Andrade
A alguém, um único alguém, importam todos os versos.
Se, por acaso, desarvorado, outro alguém degusta a ânsia
das minhas palavras espalhadas em arremedo de poemas
e nelas bebe o que me sacia e me abre os céus do amor,
percebe logo, em uma ou outra linha dispersa e morna,
que todas as luas acesas e os beijos estão encantados
do feitiço mais improvável.
Não me culpe, nem queira desvendar meu sentir,
se, porventura, alguma palavra tange a corda do querer
e desperta o desejo de amor semelhante a este meu amor
que não se cala, antes abre-se como portas arrebatadas pelo vento.
Não, não me culpe e nem me peça o que já não me pertence.
O meu amor, insubmisso e alheio ao que lhe nega o existir,
anda perdido pelos caminhos, buscando os rumos
de quem o tomou sem pressentir.
Saramar
Imagem: Fuessli