CAIS



"o que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto..."
(Chico Buarque)

eu vivo no cais
olhando pro mar
eu vivo de ar
gaivota sem rumo
perdida de amar.

eu vivo no cais
a espera de nada.

de tanto olhar o mar
azularam-se meus olhos,
perderam-se os sabores
ficando o sal.
do mar?
talvez lágrima
se ainda restar.
Saramar

AS SETE MARAVILHAS
Cilene, Dono do Bar e Tina nem esperaram começar o mês de julho e já me enviaram seus presentes. Confesso que mal soube desembrulhá-los de tão emocionada e feliz que fiquei. Precisei da ajuda de sete pessoas, sim SETE (vejam a lista abaixo) MARAVILHAS.
Bosco Sobreira, Zé Carlos, Alquimista, Guto Leite, Bill, Moita, Daniela.


Imagem: Rafael Fernando Flores

VENENO


Eu te amo tanto.
não acaba essa agonia
nem o veneno se desfaz.
teus vestígios, minha gula,
meus pecados, meu medo
e a eterna penitência
de te amar sem esperança.

Nem sabes do tanto que te amo
nem pensas nos sonhos alheios
em que meu coração se mira
para inventar o fogo dentro da noite.

E tuas mãos, tuas mãos
que imagino me revirando o sangue
o avesso de mim todo se desfazendo.
Veneno,
teu inocente veneno.

Saramar

Imagem: Oberon Studios

LADOS


a porta sempre trancada
do teu duro coração
esconde do lado de dentro
a mágoa, o logro, a dor,
deixando do lado de fora
as luzes, as flores, a música
da festa do nosso amor.
Saramar

Imagem: Michele Molinari

Hoje tem outro poema lá no blog do Leo.

AMOR


Nesses laços que o amor
(sorrateiro) cria,
há que se pisar de leve.
O amor é breve,
é fio que se rompe
ao sopro mais impossível,
a um sorvo diferente
de ar.

Se dele não há como desenredar-se,
sorrateiramente
desfaz o que se pensava pronto
e solto, solta-se por aí,
balão que, de pouco em pouco
perde a cor
bem diante dos cegos olhos,
cegos de tanto o contemplar.

(
O amor não é o quadro de enfeitar.
É antes, a parede que se põe abaixo
e o que há depois dela
).


Saramar

Imagem: Joan Miró

TEMPO, TEMPO


Tudo vai passar.
essa flor, o copo, a sede e

o assombro das horas vazias.

Vai passar a espera e
a nostalgia do encontro
que nunca se deu.

Passarão também as horas
ainda que lentamente
e as noites saltarão sobre mim,
lupinas,
invadindo os dias.

Tudo vai passar,
a não ser o meu amor,
avesso do céu
e essa dor, essa dor.
Saramar

Imagem: Lady More

ASAS


seu vôo não é o meu.
mais alto, vivo,
além de qualquer roupagem.

depois do amargo do dia, vou.

meu pouso é em sonhos,
do contrário, vôo.

não se iluda amigo,
não vou na direção da certeza,

louca? sou.
Vivo dessa mania de planar em miragem.
Saramar

Imagem: Elvira Amrhein

NÃO FOI POR QUERER


Não foi por querer
foi um por um triz e
o disco de Dolores
tem tudo a ver.
Não, eu não quis
o olhar de fogo
nem o sorriso,
candelabro aceso
logo agora
que minha boca
fingia esquecer
seu beijo de giz.
Saramar

Imagem: Willian Dyce

UM BLUES


eu amo você
e de que adianta?
não vê as portas abertas,
meu coração oscilando,
como um copo à beira da mesa
à espera de uma palavra de amor.
e nem precisa tanto,
bastaria um blues no bar mais próximo,
um beijo de mentira,
meu baton desfeito
e, no espelho,
ao lado da solidão,
a certeza refletida do amor
que não existe

senão em minha alma triste.
Saramar

Imagem: Daeni Pino

Hoje tem um poeminha novo lá no blog do Leo.

O AMOR QUE JÁ FOI MEU


Pode, por favor, emprestar um lenço,
o ombro, segurar minhas mãos?
O gelo que sente não é frio
(está tão quente o dia)
nem essas lágrimas são de alguma
dor renitente.
É o meu amor (eu pensei)
que passa ali,
veja como vai contente,
como sorri!
É ele e o seu presente
onde não estou, pode perceber
Ele e seu novo amor
(olho o espelho quebrado para fingir que
quem está ao lado dele, é o meu reflexo, sou eu).
Sim, sou dada a essas ilusões,
não repare.
Só segure assim minhas mãos
logo elas também entenderão
essa estranheza da pele,
o toque da melancolia.
Veja, já sabem.
Perdão, não adianta o que faça,
estão para sempre frias.

Saramar

Imagem: John Godward

FALAR DE AMOR

Catarse,
sina, sonho?
Falar de amor,
prazer ou dor?
Não sei.
Sei, entretanto que meus amores, aquelas pessoas do meu coração, que amo, que admiro e respeito pela beleza da alma, nunca se cansam de mimar esse meu coração.
Mimos? Ai, sim, muitos.
A
Tina, a Luma, a Mary, a Letícia e o Mário
(esses anjos que se fingem de gente
para nos encantar) me encheram de flechadas de amor.
Obrigada, anjos que, em meus versos lêem o amor e o desejo de amar.

MENDIGO


O amor, esse mendigo,
vive batendo à minha porta
e quer água para sua sede
e me leva as roupas do corpo.
Saciada sua fome,
satisfeito, sonolento,
o amor dobra a esquina
em busca de outro porto.

De tanto entregar, exaurida
percebo que o mendigo
levou tanto, levou tudo
deixando só o vazio,
levou minha própria vida.
Saramar

Imagem: Eugene Carriere

CÔNCAVO


Deitada no seu colo,
como maçã com casca e tudo
ouvindo Chico
(
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar...
)
desenho coisas no vento
da minha cabeça
coisas de amar.
seu corpo abarca o que sonho.
inicio assim a viagem,
de pernoitar no calor,
colar no seu peito,
colar?
Não me calo,
pelo seu corpo, viajo,
oceano de navegar.
Saramar

Imagem: Robert Heindel

NAMORADOS

Subitamente
uma música rompe o medo
é sua voz e me chama
-Vem amar .
E vem pelos dias,
canta versos,
e me diz
-Amada!
E se cala e me calo
mudos desse amor .
Subitamente
é dança
e minha mão adora seu rosto
e sua mão adorna o meu,
apaixonado.
Namorados
Saramar

Quer ler outro poema pequenino de namorado? Vá lá no blog do Leo.

NEBLINA


"Alguns são nascidos para, na noite infinda, chorar. "
Willian Blake
Se já nem posso ser sua
anoiteço assim como quem dorme
em inesgotável madrugada sem sonhos.
Desperta, um vinho arranha a garganta,
um pedaço de lápis rabisca a folha branca.
Busco sua sombra na neblina mansa
que enregela flores no jardim.
Tanto frio, tanto.
Meus ossos doem,
minha alma dói,
meus olhos doem
dessa ausência já tão íntima
e da obstinada espera,
sem possibilidade, sem fim.

Saramar

ESSE AMOR


Falta uma gota de sangue
neste amor em preto e branco
que brincamos de amar.
Falta um gemido de dor,
um pedaço de vida
nesta fantasia que inventamos de usar.
Falta a festa, falta o riso e
a impressão digital.
Falta o espanto da sua mordida,
falta a cor do meu sangue e
o suor do seu peito salgando minhas costas.
Falta o retrato, o grito e a porta batida,
falta a despedida, o pranto,
a volta e o canto.
Neste amor, falta um tango.

Saramar

Imagem: Dagmar Zupan

INSÔNIA II


Continua a madrugada.
Pesa em meu leito a névoa,
a lua se esquece sempre de ir.
Aqueço-me com os velhos dias.
As lembranças,
lobos que assaltam em banquete,
simulam os sonhos que não alcanço.
Continua a madrugada.
E já parece meio dia, dia inteiro,
mas nenhuma estrela se apaga.

- Deixem-me, lobos,
companheiros das longas madrugadas.
Não quero, sobre os velhos dias
me debruçar e, Narciso às avessas,
encontrar apenas desolação e tristeza
.
Saramar

Imagem: Joel Sartori

PINTURA OU CANÇÃO?


Deixa-me colorir teu corpo
com meus olhos de amor
e nele desenharei, com seda,
todas as carícias ainda virgens ,
de tua pele.

Há uma febre em minhas mãos,
rabisco morna, tuas costas,
queimo teu peito
deixo outros traços,
de beijo.

No molde das minhas,
desenho tuas coxas,
mudando as cores, arco-íris,
arco de flores
em totem de feroz pintura.

Onde a tela, onde a paisagem?
Já me perco nos tons que ensaias
ao mais leve murmúrio de minhas mãos.
Perco a cor, misturo os tons,
mestiça imagem,
Em meu traço, teu corpo ou meu?
Pintura ou canção?

Saramar

Há um poema lá no lindo blog do Leo. Vá ler, por favor.

SEM REMÉDIO




Não, não é o mar
que nos separa.
É a ausência de cais.

Saramar

À FLOR DA PELE

Para quem não me conhece,
eu agora me apresento.
Não sou flor de se cheirar,
mas tenho momentos de saciar,
fastio de desejos, malemolências.
Rendo-me facilmente aos sentidos,
basta me provocar
uma flor ou um lamento,
gosto de consolar.
Mas não aceito restos de sonhos
nem flores mortas,
nem paredes de vidro.
Se chegas, porém
com jeito de me aceitar,
entrego-me, ponho-me a agradar
com cheiros, sabores de entontecer.
Gosto de ser mar e invadir
e amolecer, com dengo.
Melíflua, deixo por onde passo,
doces traços dos meus alados bailados
de quando me fazem flutuar.
Prefiro o tempo bom,
as cortinas abertas,
mas entendo necessidades
de penumbra,
de alimento e pão e forno
e quenturinhas irreveladas.
Não se preocupe, sou banal
mas não se iluda,
aspiro à beleza das borboletas
e sua inconstância.
Muitas vezes, sou equívoco.
Menos mal se não houvesse horas,
viveria, então, só de amor
beija-flor, beija, beijo, beijo.
Sou cálice cheio até a boca
e me derramo ao menor toque.
Nas noites, finjo que sou deusa,
capaz de algum furor,
quem sabe um amor,
mas passa rápido,
pássaro de andar pelo ar,
ilusão de sábado.
Falta-me um destino para tanto ser.
Faltam-me os braços de me segurar
para neles enlanguecer.

Saramar

Imagem: Lizette Luijten-Daas

Este desnudamento é a propósito de um meme, dado a mim,
presente dos deuses, da minha amiga-deusa,
Daniele.

VINGANÇA


As marcas que em mim deixaste,
outras bocas apagaram.
Vingança triste e inútil.
Gravadas em fogo e fel,
tuas últimas palavras,
como mímica de loucos,
permanecem intocadas,
em dança sem fim
apesar do meu parco sentir.
Depois de tua ida,
todos os invernos moram em mim.
Saramar

Imagem: Tania Muller

INÍCIO OU FIM?


Deitar no teu peito, "fera exausta",
é o fim ou início do delírio?
da noite mais longa?

Ainda buscas em meus seios,
o cheiro, a maresia que deixaste?
Início ou fim?

No luzir das primeiras horas,
o dia em nós já veio antes,
pois que nascemos sempre,
ao morrer, entre pernas, beijos,
no chão que se abre
e no vinho que, sedento,
bebes em mim.
Saramar

Imagem: Munch