Farta de concordância
desato o verbo e
exijo que as crianças
reconstruam o mundo
com a argamassa
do sonho e do riso.
Refaçam-se as metáforas
povoem os livros de flores
e enxotem as palavras
de ordem.
Acabem com os sujeitos ocultos
da guerra e seus objetos mortíferos.
Ressuscitem a alma das crianças
para chorar outras crianças
mortas, enfim inatingíveis por obuses
e por absurdos cruéis dos
monstros carnívoros,
senhores das frases duras,
das armaduras.
Procurem outros tempos
em que os verbos se conjuguem
no presente e no futuro,
traduzindo-se em esperança.
Apaguem as orações radicais
e em seu lugar deponham as armas.
Destruam as onomatopéias malignas
das balas tracejando em corpos
infantis e colorindo de vermelho
a infância e a juventude.
Desmontem os mísseis,
trocando-os por cartas de amor,
de amizade, de perdão.
Acendam a luz nos olhos
dos velhos, cansados de
procurar a mensagem
dos deuses em sangue e lágrimas.
Basta de antônimos,
queremos igualdade de termos
queremos construir juntos
os versos livres,
os versos límpidos da
PAZ!
Saramar
Imagem: Picasso
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