TRABALHO
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Saramar
on domingo, abril 30, 2006
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Há no trabalho a essência dos deuses.
Aquele que faz, constrói e sonha
é aprendiz da divindade e dela recolhe o lume.
Verbo tranformado em vida.
Fazer
Construir
Sonhar
Verbos dos homens e dos deuses
elaborando os dias, tecendo a vida
em luta contínua e sedutora.
Não é ópio, antes dor e, apesar disso,
escreve diariamente a história do homem.
Saramar
Imagem: Sadie Patterson
SAUDADE
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Saramar
on sexta-feira, abril 28, 2006
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Gotejar perene das horas
por entre minhas lembranças.
Herança dos carinhos em meus olhos
para sempre molhados, antigos.
Uma dança em torno de mim,
um relógio que só anda para trás
buscando, buscando interminavelmente
os idos, os risos, onde se perdeu a razão.
Eco de beijos tão longos quanto a vida
e mais doces, mais doces, mais doces,
Ah! "eu sei de longe e sei de cor" .
Essas dores para sempre gravadas
em todos os seus vestígios.
Linha do tempo do amor que se foi,
distante de mim, cada vez mais distante.
Saramar
Imagem: Martin Paul
Imagem: Martin Paul
MINHAS PREFERÊNCIAS À LA BRECHT
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Saramar
on quarta-feira, abril 26, 2006
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Alegrias, as naturais.
Dores, as banais.
Dores, as banais.
Casos, os explosivos.
Conselhos, os não ouvidos.
Meninas, as esperançosas.
Mulheres, as indecorosas.
Orgasmos, os estonteantes
Ódios, os inconstantes.
Domicílios, os mutáveis.
Adeuses, os impronunciáveis.
Artes, as marginais.
Professores, os anormais.
Prazeres, os desmedidos.
Projetos, os incontidos.
Inimigos, os distantes.
Amigos, os amantes.
Cores, as invisíveis.
Meses, os incontáveis.
Elementos, os existentes.
Divindades, as penitentes.
Vidas, os sonhos.
Mortes, os tristonhos.
Adaptado da Lista de Preferências, de Brecht,
por convocação do meu querido amigo, o Poeta Pedro Nobre.
Imagem: Rosemary Stanford
VIESTE!
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Saramar
on sábado, abril 22, 2006
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Procurei-te pelos dias sombrios da solidão.
Procurei-te em vários mundos e em outras
tantas vielas, em janelas e bancos vazios de
praças tristes, sem pássaros ou crianças.
E passavas por mim, passavas sempre por mim,
mas em meus olhos calejados de tua busca,
não havia luz e eu só via distâncias e silêncios.
As canções na noite não eram. Tudo se fora, antes.
Quando, perdido o rumo e desfeita em nadas,
surges teatral e, entre pantomimas e flores,
cercas, enlaças, enfeitas minha rua com
pedrinhas de brilhante e me diz: Vem!
Saramar
Imagem: Marie M. Šechtlové
CACIMBA
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Saramar
on quinta-feira, abril 20, 2006
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Tá vendo aquela cacimba
lá na bêra do riacho,
im riba da ribanceira,
qui fica, assim, pru dibáxo
de um pé de tamarinêra
Pois, um magóte de môça
quage toda manhanzinha,
foima, assim, aquela tuia,
na bêra da cacimbinha
prá tumar banho de cuia
Eu não sei pru quê razão,
as águas dessa nacente,
as águas que ali se vê,
tem um gosto diferente
das cacimbas de bêbê
As águas da cacimbinha
tem um gôsto mais mió
Nem sargada, nem insôça
Tem um gostim do suó
do suvaco déssas môça
Quando eu vejo essa cacimba,
qui inspio a minha cara
e a cara torno a inspiá,
naquelas águas quiláras,
Pego logo a desejá
Desejo, prá quê negá?
Desejo ser um caçote,
cum dois óio dêsse tamanho
Prá ver aquele magóte
de môça tumando banho!
Zé da Luz
Imagem: Di Cavalcanti
INDIFERENÇAS
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Saramar
on quarta-feira, abril 19, 2006
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Deixei o amor e deixarei o verso.
Meus cantos obscuros não encontram
mais eco em rabiscos paupérrimos.
Há umas distâncias que não alcanço.
Em mim, intempéries sem palavras.
Queria algum canto, um violão, talvez.
Acordes entrando em mim.
Clarear meus cantos com alguma voz
amiga, acordes, acordes que me toquem.
Algo emudeceu em meu peito e há um
peso inesperado em minhas mãos que
impede o parto de pobres palavras.
O dia, a noite e o amor com suas emanações
enganosas deixam indiferentes meus cantos.
Queria outros cantos, um acorde, prontos
para clarear os meus cantos.
Saramar
Imagem: Marcio Melo
SEM NADA
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on sábado, abril 15, 2006
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SÚPLICA DE PÁSCOA
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Saramar
on quarta-feira, abril 12, 2006
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Homem, pedaço desse mundo.
Todos os deuses se uniram para o criar e lhe
dar a essência amorosa e livre com que surgiu.
Todos os universos se equilibram perfeitamente
em seu redor para mantê-lo vivo e são e livre.
Então, Homem, por que insiste em ser prisioneiro?
Já se faz o tempo de libertar-se, chegou o momento.
É páscoa, pense nisso.
A páscoa é liberdade, é libertação.
Então, liberte-se!
Liberte-se desse animal daninho
que habita os becos de sua alma
e que ignora, oprime e mata.
Liberte-se das aves agourentas
que pairam em seu cérebro e
tramam, enredam e matam.
Liberte-se desses enlaces falsos
do preconceito e do orgulho.
São nós atando suas mãos.
Liberte-se do fardo do ódio
que o faz curvar-se até o chão
onde só os ínfimos se arrastam.
Liberte-se das armas e suas falsas
promessas de força brutal e cega
que elas se voltarão contra sua vida.
Liberte-se dessas mascaras vãs
da individualidade e do egoísmo
que elas mutilam a alma e a face.
Liberte-se desse ser estranho
em que se transformou ao
esquecer sua origem e sua sina:
a Liberdade.
Saramar
Imagem: ALexandre P.
ADEUS
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Saramar
on terça-feira, abril 11, 2006
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Todas as músicas cantei
um segundo antes do fim.
Em todas as línguas pedi.
De você, apenas um sorriso
depois da condenação.
Esta manhã foi a última.
Vê-lo sonhando (com o quê?)
deu-me uma ânsia de arranhar
seus olhos e chorar dentro deles,
uivos de dor no final da cena.
Mas, só o que fiz foi
acordar sem barulho
e mantê-lo dormindo
calando minha voz.
Saramar
PERMANÊNCIA
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Saramar
on quarta-feira, abril 05, 2006
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