LUTAS
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Saramar
on quarta-feira, março 29, 2006
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Quebrei os elos que adornavam
cruelmente os pés e a mente.
Deixo-me dos amores e me lanço
à letra, ao verbo, ao verso.
Falta-me melodia para estes,
E foi pobre para aqueles.
Ambos são lutas que travo,
perdidas quase sempre.
Quando amava, perambulava cega
pelos amores vários e desvairados.
Nada sabia de impossibilidades,
via barcos nas nuvens e
andava por ruas encantadas
sorrindo para os passantes.
Agora, desprendida dos inebriantes elos,
falo porque, em silêncio, encho-me de agonias.
Quando falo, dúvidas me enredam.
As palavras são outros elos que arrasto
e escorrem estéreis, côncavo vazio.
Curvo-me ao silêncio e às palavras,
novas pelejas, outras quedas,
infinitamente, até a decrepitude.
Saramar
Imagem: Lia Pires
FIM
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Saramar
on terça-feira, março 28, 2006
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Eu queria te dizer não
E depois morrer de amor
languidamente,
entre suspiros quase inaudíveis,
cortesã em leito luxurioso.
Porém, meu romance de amor
morreu sem nenhum glamour.
É só um telefone que não chama,
e palavras que não chegam.
E, afinal, eu nem disse não.
Foi você que não ouviu.
Saramar
Imagem: José Pedro P. Costa
SEM NOME
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Saramar
on domingo, março 26, 2006
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Amo-te porque não sei porquês,
num quanto que só sei que não sei quanto.
Amo-te no duplo do que vê
se enquanto assim não vês, amo no enquanto.
Amo-te na calma e no espanto
de que não mais assim ame talvez.
Amo-te de sempre e em todo canto
que exista, que existiu ou não se fez.
Amo-te sem quandos, quais e quês,
sem se, sem todavia e sem porquanto.
Amo-te sessenta dias/mês.
E em cada santo dia e dia santo,
amo-te em todos de uma só vez
e em um de cada vez amo outro tanto.
Antoniel Campos
Imagem: André Lopes
INDAGAÇÃO
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Saramar
on sexta-feira, março 24, 2006
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OUTONO
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Saramar
on quarta-feira, março 22, 2006
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É outono lá fora e em mim, amarelam palavras
de amor, cansadas de se repetir para ninguém.
O amor que imaginei, um eco dos meus desejos,
Sonhos, canções que ninguém ouve, miragens.
Caem as folhas do meu romance, caem tristes.
Os brinquedos que inventei para colorir os dias
quedam-se estéreis. Nem um sorriso se abriu
para o girassol, nem a lua o viu e, apesar dessa
solidão, tudo continua, as estações continuam.
É outono, fez-se enfim a morte que, lá fora, é
promessa de vida, túmulo e ventre do que virá.
Em mim, sonhos, palavras e sementes mortas.
Outono enganado e vão, sem promessa ou chão.
Saramar
Imagem: Rita Afonso
A NOITE NA ILHA
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Saramar
on segunda-feira, março 20, 2006
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Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono, entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu
e pelo mar escuro me procurava como antes,
quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora
- pão, vinho, amor e cólera - te dou,
cheias as mãos, porque tu és a taça
que só esperava os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei,
e tua boca saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.
Pablo Neruda
AQUELES QUE AMAM
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Saramar
on domingo, março 19, 2006
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Cantam comigo todos os amantes.
Porque amo, encontram-se em mim
e trocamos doces miudezas e as dores.
Falamos do caminho florido,
e das escadas a descer.
Sós e indefesos, tão iguais e sempre.
Os amantes tentam todos os ardis
e compram todas as flores da cidade
para fazer o seu amor sorrir.
Os amantes choram sob o lençol,
o mesmo, molhado de outras vertentes
que não olhos de ausência.
Os olhos, ah!
os olhos dos amantes são inúteis.
Cegue-nos e amaremos ainda e mais.
Os amantes sabem amar o nada, o ar
que o ser amado já aspirou ontem.
Os amantes sabem ver o amado que
não veio e talvez, nunca esteve em
nenhum lugar próximo.
Calem nossas vozes e amaremos mais.
Os amantes sem palavras são mais
eloquentes e criam suavidades
para encantar o seu amado.
Os amantes nada querem
e de nada precisam, a não ser
a certeza do existir do ser amado.
Só.
Saramar
MEU CORAÇÃO CHORA POR VOCÊ: SAUDADE!
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Saramar
on quinta-feira, março 16, 2006
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Quando penetraste
distância adentro,
no ir-se de mim, embora,
trouxeste novo significado,
à saudade!
Agora moradora em meu peito,
que corroe co'os dentes,
meus sentimentos,
de tal forma,
que meu coração
e pensamentos choram...
Há tanto silêncio em nosso leito,
nenhum sussurro de amor,
há tanta ausência agora!
Quando penetraste
distância adentro,
no ir-se de mim, embora...
Edvaldo Rosa
distância adentro,
no ir-se de mim, embora,
trouxeste novo significado,
à saudade!
Agora moradora em meu peito,
que corroe co'os dentes,
meus sentimentos,
de tal forma,
que meu coração
e pensamentos choram...
Há tanto silêncio em nosso leito,
nenhum sussurro de amor,
há tanta ausência agora!
Quando penetraste
distância adentro,
no ir-se de mim, embora...
Edvaldo Rosa
Noturno
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Saramar
on quarta-feira, março 15, 2006
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POESIA
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Saramar
on terça-feira, março 14, 2006
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Bem como o horizonte intangível
ou flor que só se abre uma vez por ano,
ou como os deuses que nos governam
mesmo não existindo.
Assim como alguma carta de amor
que nunca chegará e que faz
a vida passar à sua espera.
Com o jeito de um amante imaginário
e suas carícias improváveis.
Ou uma lembrança suave e carregada de paz
que insiste em fugir da memória deixando
rastros, riscos, rabiscos.
Um portão que se abre para um jardim de Monet
ou um pesadelo de Dali.
Um viver entre outras miragens tal
seareiros das palavras em secreto plantio.
Brotos que não se abrem ou frutos
que alimentam outros e outros, quase por acaso,
como se sob uma chuva benfajeza.
Sonhos transportados na madrugada solitária,
silencioso chamado, íntima dor ou cantoria.
Isso é poesia.
Saramar
Imagem: Monet
AMAR
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Saramar
on domingo, março 12, 2006
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Amar, amar
ceder ao coração
a razão
e só, só, só viver pra ser
a casca pro outro
viver.
E ter, e ter e ter
amarguras mil sem ter,
por que e pra que tecer
e ser
como uma varinha de condão
para quando riscar o chão espalhar,
espalhar no céu (ah!)
Beatles a granel
em sonhos de papel
porque na vida amar é fel
e mel
Tudo bem alto,
Tudo baixinho,
Tudo calado
Tudo bem alto,
Tudo baixinho
Tudo...
Tom Zé
Imagem: Greg Gawlowski
NOITAS, DIAS
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Saramar
on sexta-feira, março 10, 2006
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Meu amor,
Dona das manhãs, no meu compasso
Desarrumadas, para me espreguiçar nelas e na
lembrança de noturnos açoites em meus ouvidos,
Sou a portadora da inveja das flores, dos jornaleiros e do sol,
ao passar pelo dia, imersa nas lembranças
dos seus beijos e palavras e gemidos
que desmaiarão o sol em meus olhos.
Ave ansiosa, novamente o buscarei,
para me entontecer na luz dos seus carinhos.
Acendedor de lampiões!
Ainda que nada fale, é portador de noturnas
volúpias para ensolarar o meu corpo
e alumiar o meu retornar
ao seu corpo reencontrado.
Saramar
Foto: Almor Loucao
O CRIME
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Saramar
on quarta-feira, março 08, 2006
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TERNURAS
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Saramar
on domingo, março 05, 2006
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Em meu amor há tanta ternura!
Velam-se meus olhos com as
palavras quase infantis com que
me acorda o corpo.
Em meu amor, há tal ternura.
Suas mãos, borboletas irrequietas
a brincar em minha pele jardim.
Em meu amor, a ternura é um
cálice a se derramar, beijos são gotas
e se desmancham em meu corpo.
Em meu amor, a ternura é uma
bolha de sabão, colorida, crescente.
Bolha infinita e breve e eu inteira
suspensa, a esperar o momento
em que vai, em mim, explodir
Ternamente.
Saramar
Foto: Andre Lopes
SEU AMOR
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Saramar
on quarta-feira, março 01, 2006
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Seu amor despertou meu canto.
Sol, águas claras, nem sempre mansas,
e pássaros moram em mim.
Sua presença trouxe fábulas e
sorrisos iluminam meu rosto.
Minha boca é doce, frutificando na sua.
Suas mãos me entontecem e despertam a
deusa antiga e impudica da fantasia.
As dores enlangueceram.Fecharam-se as cortinas sobre a solidão.
Saramar
Imagem: Antônio Canova