QUERER
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Saramar
on segunda-feira, janeiro 30, 2006
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Hoje, não quero flores e seus perfumes esquivos.
Não preciso de adornos e sua beleza ilusória.
Não me apetecem palavras sedutoras ou músicas.
Hoje quero mamulengos coloridos de flores e suores,
dançando em meus olhos ansiosos.
Quero dentes em meus lábios.
Quero aspirar o hálito de sua boca persuasiva e
invasora, de sussurros surdos, grosseiros.
Quero pontes úmidas
entre a minha boca e a sua.
Quero modorras após mordidas.
Hoje, quero beijos.
Saramar
Imagem: Laurent Pinsard
ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU
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Saramar
on sábado, janeiro 28, 2006
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Além da Terra,
além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam
o pensamento e o coração, vamos!
vamos conjugar o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente,
acima das gramáticas e do medo
e da moeda e da política,
o verbo sempre amar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.
Carlos Drummond de Andrade
Imagem: Arnie Rosner
SONHOS
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Saramar
on quinta-feira, janeiro 26, 2006
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Na madrugada, sob a luz escandalosa
da lua cheia totalmente acordada,
desmancho-me em sonhos de amor.
Ecos se penduram em minha imaginação
e o silêncio da noite me deixa, furtivo.
Sorrisos teimosos brincam em minha boca.
A felicidade quase me toca, girando à
minha volta, num baile tentador.
Quero tocá-la, fugitiva que é.
Na madrugada, enquanto a lua alumia,
minha boca trocaria os leves sorrisos
por grandes beijos de amor.
Saramar
Imagem: O Beijo, de Rodin
ODALISCA
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Saramar
on segunda-feira, janeiro 23, 2006
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Mas, perco-me nessas belezas,
nessas suas suavidades e não
consigo mais sair nem pensar.
Fico por aqui,
como uma criança no parque,
como uma fera em sua selva,
como em casa.
Entrego-me em suas mãos
mesmo que elas sejam apenas promessas
e ando meio sonhadora
em seus sonhos
que não são os meus.
Quem dera ser sua odalisca
E enleá-lo entre meus véus
de desejos e devaneios,
enredá-lo interminavelmente
em danças e quadris e pernas.
Saramar
Imagem: Antonio Canova
CIRCO
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Saramar
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Fui ao circo com meu amor
ver os trapezistas brincando de anjos.
Sentados na primeira fila, mãos dadas,
e beijos trocados, de algodão doce.
Os palhaços tocaram nossas faces
e ficamos coloridos de felicidades,
todas as felicidades, de todas as cores.
A tarde vinha a todo momento
espiar pelos buracos da lona
e sorria ensolarada.
Êxtase!
Saramar
Imagem: Foto de LGomez
TODO SENTIMENTO
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Saramar
on sábado, janeiro 21, 2006
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Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.
Chico Buarque
Imagem: Steven N. Meyers
ESCULTURA
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Saramar
on quarta-feira, janeiro 18, 2006
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A primeira palavra,
A segunda palavra
e depois, uma dança de palavras
em um espaço antes vazio e imenso.
Recuos e enlaces projetando no ar
certos sentidos e urgências.
Flores, palavras-flores,
como românticas cartas antigas,
lançam-se, em intermezzo.
Sorrisos aparecem como vagalumes
que esqueceram de se apagar e
vão ficando, ficando.
Alguns sons vêm e vão, compondo,
recompondo um balé envolvente.
Quem sabe, música?
Quem sabe, palavras doces?
Movimentos indecisos do seu início,
temerosos do seu findar
preenchem o vazio que
se esvai, lento, lento.
Palavras, mais flores-palavras
e ei-la, invadindo o que antes não era.
Sedução.
Saramar
Imagem: Seduction, de Giovani de Buse Cariani
NOITE E DIA
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Saramar
on sábado, janeiro 14, 2006
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Naquele dia,
Mudei meu rumo.
Preparei seu banho,
seu prato e sua cama.
Enfeitei sua noite
Como Dolores Duran.
Saí do casulo e
borboleta cega,
perdi-me nos vãos
do seu corpo e
no mel da sua boca.
Os sons exaustos
daquela noite
acordaram os surdos
e embalaram os tristes.
Havia dores e deleites,
Unhas e dentes.
Curvas, retas, vazios
giravam em você.
Em mim, caleidoscópio
desarrumado e voraz.
Naquele dia, perdi a voz
para ouvir apenas seus ecos.
Porém, o mundo amanheceu.
E, na manhã
perdi meu mundo.
Saramar
Imagem: mulher50a60.blogs.sapo.pt
AMOR, TRANQUILO AMOR
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Saramar
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Pergunta-me o que quero de ti.
Sei o que não quero ou talvez
saiba de algum querer tranquilo,
ainda indistinto.
Não quero de ti teus caminhos
retos ou sinuosos.
Não quero teus arroubos de paixão
ou teus beijos roubados na noite.
Não quero as estrelas que trazias
disfarçadas em caixas de bonecas.
Não quero as bonecas
nem as caixas de músicas quebradas.
Não quero as flores com que
perfumavas meus dias e coloria
minhas longas noites solitárias.
O que quero de ti é apenas
esse estar em mim, como a vida está.
Quero apenas o sabor da tua
boca guardado na minha pele.
Quero teu silêncio que me acompanhava
nas tardes tranquilas sob o pé de manga
onde, juntos, ouvíamos passarinhos
e namorávamos beijas-flores.
Saramar
Imagem: Paulo Medeiros
DENSO
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Saramar
on quinta-feira, janeiro 12, 2006
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A densidade do ato
A intensidade do beijo
O intacto anseio
De ter um lampejo
E invadir teu hiato
Vagar sorrateiro
No insensato pensar
Ou persuadir teu segredo
A entregar-se inteiro
No enredo a catarse
Tremor de teus lábios
Arrepio de torpor
Amor e suspense
Sábio equilíbrio
Entre o clamor do delírio
E o mistério do arbítrio
Entre o rumor de teus gestos
E teu olhar: meu martírio
Sílvio Vasconcellos
A intensidade do beijo
O intacto anseio
De ter um lampejo
E invadir teu hiato
Vagar sorrateiro
No insensato pensar
Ou persuadir teu segredo
A entregar-se inteiro
No enredo a catarse
Tremor de teus lábios
Arrepio de torpor
Amor e suspense
Sábio equilíbrio
Entre o clamor do delírio
E o mistério do arbítrio
Entre o rumor de teus gestos
E teu olhar: meu martírio
Sílvio Vasconcellos
Imagem: Balance, de Katia Spilker
ILHA
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Saramar
on segunda-feira, janeiro 09, 2006
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Seu corpo é uma ilha oculta
Onde meus olhos se perdem.
Aproximo-me dele,
náufrago que sou,
na insana busca da
seiva que manterá
meu corpo faminto.
Altos ramos rijos a me
enlaçar, prendendo-me
em seus liames musgosos.
Pântanos em que mergulho
e onde, insensata, sufoco sorrindo.
Montanhas áridas e belas,
cobertas apenas com a
penugem crua dos sedentos
que corta meus lábios e
fere minhas pernas.
E, súbito, líquido dulcíssimo,
seiva que eu buscava,
água da vida, jorrando
em meu corpo aberto
e finalmente saciado.
Saramar
RÁFAGAS 9
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Saramar
on terça-feira, janeiro 03, 2006
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Decir humano, es decir grandeza,
y aceptar la pequeñez,
es sacrificio, y es recompensa,
gemir, reír y esperar...
Decir humano, es decir dudas,
deseos y desnudez.
Decir humano, es decir vida,
es morir y renacer...
Decir humano, es decir grave,
y asumir la levedad,
perseverancia, olvido y queja,
y estar siempre por llegar...
Decir humano, es decir penas,
tristeza y soledad,
desesperanzas, nostalgia y juergas,
llorar, gritar y besar...
Decir humano, es decir madre,
ternura y sensibilidad,
es decir tierra, es decir padre,
y es decir orfandad...
Decir humano, es decir amigos,
lealtad y comprensión,
es decir traiciones, y desencantos,
y no perder la ilusión...
Decir humano, es decir hijo,
y es decir esterilidad,
es decir muerte, es decir vida,
y es decir comenzar...
Decir humano, es podredumbre,
y también divinidad;
carne mordida, por la injusticia,
trabajar y confiar…
Decir humano, es decir noches,
pasiones, odios y amor,
es decir día, fe y esperanza,
y es saber renunciar...
Decir humano, es decir cálido
y una piel junto a otra piel,
sentirse fuerte, débil y amado,
y capaz también de amar...
Decir humano, es decir libre,
y también esclavitud,
valor y lucha, renuncia y duelo,
tener siempre que elegir…
Sólo tu, hoy, igual a mí,
encarnas este decir.
(Este poema nació cómo canción, es decir: tiene música)
Camen Moreno Martín (Hannah)
QUEM SABE?
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Saramar
on segunda-feira, janeiro 02, 2006
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Há algo no ar.
Borboletas brincam em meu corpo.
Meio a medo, tateio novas sensações
renovadas por algum feiticeiro invisível.
Ou, quem sabe, um anjo de perdição?
Silêncios repentinos despertam memórias
quase insuportáveis em sua urgência.
Meus olhos mergulham em volta de mim
a procurar por essas mãos imaginárias
que me acariciam, ardentes, aquecendo-me,
acendendo labaredas incontroláveis e inúteis.
Como na primavera, brotos assomam em mim,
de sementes tão antigas que já nem me lembrava
de sua beleza e torturante colorido.
Estou cor de rosa
Ficarei vermelha?
Saramar