PASSADO


Em uma gaveta qualquer,
encontrei palavras antigas.
Eram palavras ansiosas e foram
palavras esperadas, colhidas da paixão,
embaladas em sonhos de amor.
Hoje dormem o sono de todo amor.
Ao vê-las assim tão tranquilas,
Ao lê-las assim tão quietas,
a recordação das vertigens
que guardam em segredo e das
lavas que derramavam
quase nada desperta.
Quem sabe uma leve brisa a
revolver cinzas, talvez uma aragem
de melancolia de doces momentos
trancados em alguma veia deste
meu corpo esquecido.
Saramar

O AMOR É VELHO-MENINA


O amor é velho, velho, velho e menina.
O amor é trilha de lençóis e culpa
medo e maravilha.
O tempo a vida lida
andam pelo chão,
o amor aeroplanos
O amor zomba dos anos,
o amor anda nos tangos,
no rastro dos ciganos,
no vão dos oceanos.
O amor é poço onde se despejam
lixo e brilhantes:
orações, sacrifícios, traições.
Tom Zé

O AMOR


Um raio de sol após a chuva
Gotas de água em árido chão
Sementes escondidas na terra
que de repente se abrem,
prenhes de vida.

Um livro novo do autor mais querido
Botões de rosa caprichosos
retardando o desabrochar
Arco-íris brincando de
esconde-esconde com as nuvens.

Pequenina criança que causa espanto
que chora e ri e dói nas noites sonolentas
Jardim que não escolhe local
para abrir-se em beleza e vida
e morre como começou.

Uma dança que se dança junto
em muitas horas de encanto,
e também se dança só,
tendo apenas a melancolia
como música.

Assim é o amor, doce
e cruel companheiro,
em nossas vidas sempre
pousando e indo embora.
Às vezes, tão leve, mas
constantemente avassalador.
Saramar

ADEUS


Como se houvesse uma tempestade
escurecendo os teus cabelos,
ou se preferes, a minha boca nos teus olhos,
carregada de flor e dos teus dedos;
como se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti,
eu falei em neve, e tu calavas
a voz onde contigo me perdi.
Como se a noite viesse e te levasse,
eu era só fome o que sentia;
digo-te adeus, como se não voltasse
ao país onde o teu corpo principia.
Como se houvesse nuvens sobre nuvens,
e sobre as nuvens mar perfeito,
ou se preferes, a tua boca clara
singrando largamente no meu peito.

Eugénio de Andrade
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IMPOSSIBILIDADES


Perdão, amado.
Nada fiz do que me pediu.
Esquecer seus beijos?
Não consegui.
Lavar minha alma com lágrimas
e deixá-la nua, como antes?
Foi impossível.
Apagar as palavras de amor
murmuradas em fantasias?
Jamais poderia.
Busco em mim pretextos para
satisfazer seu desejo
e apagar da minha boca seus
beijos cheios de orvalho.
Não os encontro.
Tento nada ouvir e os sons
do mundo se apagam.
Só sua voz encanta os
meus sentidos.
Perdão, não pude atender
seu pedido.
Não posso esquecê-lo.
Saramar

POEMA DA GARE DE ASTAPOVO


O velho Leon Tolstoi
Fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na Gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua...
Sentou-se ...e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Gloria,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas nas mãos esclerosadas de um caduco!
E então a Morte,
Ao vê-lo tão sozinho aquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso,
O grande Velho,
E quem sabe se até não morreu feliz:
ele fugiu... Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!
Mario Quintana

INCOMPLETUDE


Quando ele chegou, trouxe o amor nos gestos,
música nos lábios e uma doçura que dançava
em meu corpo, raios tempestuosos de prazer.
Muros ruíam em mim ao sabor do seu olhar.
Lemos sussurros de amor com lábios colados,
enquanto impressões de plenitude lavavam
nossos corpos, fonte e cálice dos sentidos.
Cantamos o amor, dançamos o amor e, ainda assim,
o desnudamento dos sonhos comuns nos levava a
outros mundos, outras e novas e mais outras sensações.
O mundo se inverteu, translacionando à nossa volta
e nada víamos, a não ser um ao outro.
Por fim, a natureza, invejosa da ventura do nosso ser,
do nosso continuar translúcido, retirou sua luz de nossos
olhos e levou a doçura e apagou a música em nossos lábios.
Nada deixou. Só a incompletude.
Saramar

PAUSA NA POESIA

Uma pausa para conversar com meus amigos
queridos que não estão me vendo
(ao estilo da Bloody Mary)


Zorro Tonto,
Star,
Terragel,
Lata Mágica,

Moderado,
Santa,
Jôka,
Lia,

LCMarques,
Staciarinni,
Hannah,
Jean,

Silvio Vasconcellos
e o Spersivo que teve a gentileza de tirar as letrinhas para que eu possa comentar.

Ai, meu Deus, quem será que eu esqueci??

Estou com problemas no micro e não consigo comentar nos blogs com letras de verificação.
Ou letrinhas, como você diz, Zorro, meu poeta escondido por trás das músicas.

Porém, estou lendo todos, como faço todos os dias..e fico doente por não poder comentar
Aqueles que têm o e-mail no perfil, eu consegui avisar. Para aqueles que não informaram o email, estou falando agora.
Então se alguém quiser que eu mande os comentários por email é só me mandar uma mensagem no meu email :
saramar104@yahoo.com.br.

Espero que na próxima semana, tudo esteja resolvido.

Beijos para todos

Saramar

SE EU FOSSE APENAS


Se eu fosse apenas uma rosa
com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não te sei dizer mais nada!

Se eu fosse apenas água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo minha vida!

Perdoa-me causar-te a mágoa
desta humana, amarga demora!
- de ser menos breve do que a água,
mais durável que o vento e a rosa...
Cecília Meireles

SÚPLICA DE AMOR


Ouve o meu lamento, amor.
Ouve o silêncio que me cerca.
Ouve o ruído das minhas mãos cansadas
de buscar inutilmente tua pele, tuas mãos.

Vem, amor, vem sentir no meu peito
um vaso inútil e vazio, cheio apenas das
dores do meu coração exausto de
tua ausência.

Vem de volta, com novas estrelas, aquelas
que prometeste colocar nos meus olhos,
luzeiros perenes do nosso amor para sempre
e que se apagaram de súbito quando saíste.

Vem, trocar os teus sentidos com os meus
como naquelas penumbras lentas, onde nos
perdíamos em alma e carne, livremente pecadores
no nosso amor menino, carrossel de delírios.

Saramar

CANÇÃO PARA UMA VALSA LENTA


Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amas, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...
Minha vida não foi um romance...
Minha vida passou por passar.
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.
Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches a vida
De surpresa, de encanto, de medo!
Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso... de um gesto... um olhar...

Mario Quintana

SONHOS DE AMOR


Meus sonhos, entreguei-os todos
em mãos benfazejas.
Tornei-me lúcida e real nessas mãos
que me conduziram, ora aos céus,
ora à indeléveis delícias.
Fui com meu amor, olhos abertos,
construindo caminhos de paixão,
abrindo sendas com sonhos perfeitos
e coloridos.
Troquei beijos e sonhos coloridos.
Mas, "...o tempo passou de repente..."
como disse o Chico.
Os beijos hoje são lágrimas .
Os sonhos, ah! esses...
Tomei todos de volta...são meus.
Bailam à minha volta como
aquelas florezinhas do campo
levadas pela mínima brisa.
Saramar

ANSEIOS


Sinto na boca
O gosto do teu gozo.
Gotas ardentes,
néctar do desejo,
tu, em brasa.

És farol
deste navegador audaz.
Nasce de ti um facho,
guia-me essa luz
no oceano dos anseios.

É assim que é,
liames e enleios.
Teu fogo me conduz
ao buscado porto do
meu próprio êxtase.
Paulo Renato Rodrigues

GALO DA MADRUGADA



Para quem conhece o Recife o carnaval é um momento de união entre as pessoas, pobres e ricos, negros e brancos, todas as raças brincam no tom da mesma musica. Milhares de foliões querendo curtir aqueles momentos de alegria e “surto de identidade”, estávamos nós, odilene e eu willam, com latas na mão para fotografar aquela multidão mas não conseguimos, pois o movimento era muito grande e não dava para ficar parado nem três segundos com a lata. Para que a imagem não ficasse tremida, então fomos no outro dia bem cedo para a ponte de ferro. O artista principal no sábado de carnaval o Galo da Madrugada - fizemos algumas imagens com a lata e a reação das pessoas era de surpresa e, ao mesmo tempo de espanto, mas conseguimos fotografar, uma das raras vezes sem ser interrompido por pessoas que passam e não acreditam que nós somos fotógrafos, com latas de leite ao invés de câmeras fotográfica convencionais.
Willam & Odilene
Este foi um presente que ganhei. Neste blog, que falo de amor e de amar, colho frutos soberbos, como esse. Um ato de amor, o presente. Obrigada.

NOS JARDINS DOS SALGUEIROS


Nos jardins de salgueiros meu amor e eu nos encontramos.
Ela atravessou os jardins com os seus pezinhos brancos.
Pediu-me que levasse o amor como crescem as folhas nos ramos
Porém, eu, jovem e tolo, não dei-lhe ouvidos, discordamos.
No campo à margem do rio permanecemos então,
E no meu ombro recurvado ela pousou sua mão.
Pediu-me que levasse a vida como cresce a grama no campo.
Porém, eu era jovem e tolo, e agora banho o rosto com o meu pranto.

Willian Yeats

RETALHOS


Havia dias de esperanças maiores que a realidade.
O sol brincando de esconde-esconde,
parecia me dizer, acredite,
há sempre um término para os amores.
Sim, acreditei que iria me salvar e
amanhã, quando o sol voltasse,
estaria livre da pena de amar.
Ilusão vã. O amor não se vai nunca.
Disfaça seus rastros, nubla a visão e permanece.
Quando veio, a alma distraída, não senti sua presença
Até que se derramou em mim, uma tempestade
de doces sensações, de obscuros desejos que,
no entanto, fizeram do meu corpo, estrela,
e do meu coração, arena.
Hoje, a alma em retalhos, só entre os solitários,
busco em mim, seus restos e só encontro saudades.

Saramar