MULHER


Sou mulher,
do meu mundo,
empunho o remo
e não me tremem as mãos
em nenhum momento,
a não ser que algum quebranto
de dor
ou tormento
de amor
acenda o vento
e aqueça o tempo
em minhas águas.
Navego.
e o leme,
se áspero e belicoso,
é o meu mundo
e não me entrego,
ou me entrego.
quando não nego,
canta o vento,
dos meus gemidos,
invejoso.
Sou mulher e lamento
que ainda é curto
o tempo de não servir.
que antes, por muito tempo,
e ainda hoje,
ando sobre carvões acesos,
enquanto riem dos saltos
e dos uivos queimados
da antiga dor.
No entanto, navego.
e, se qualquer prumo enfrento,
é que me agrada o riste, o lume
da vida em líquido surgimento
e banhar-me neste prazer
é o que intento,
lépida serpente.
Sou mulher e invento
o sabor do veneno
de cada dia,
o alimento meu é o que sacia
quem navega no meu mundo,
pélago, maresia.
Saramar

Imagem: Bernhard

7 comentários:

Voodoo disse...

Bom dia meu Anjo,

Feliz dia das mulheres, ontem, hoje e sempre.
bjs

Claudinha ੴ disse...

Com um poema destes, todas nos sentimos homenageadas! Inventar e reinventar, ser veveno e antídoto, enfrentar e amar sempre... Que lindo... parabéns pela mulher que é!

Anônimo disse...

Falou bastante...

Ricardo Rayol disse...

são multiplas as facetas das mulheres

Márcia disse...

Não existe maré que iniba a mulher.
Bela poesia, doce Saramar
dias lindos
beijos

Angela Ursa disse...

Saramar, fiquei emocionada com seu poema em homenagem às mulheres. Muito lindo! Beijos da Ursa :))

Alessandra Espínola disse...

maresia, nebuloso, denso, líquido, potencial!