ATRIZ


De tantos disfarces me visto.
De gestos e gritos, vozes, vestidos.
Fujo de relógios e me envolvo
em cortinas de silêncio.
Lanço dados sem números.
Erro o passo e me aprumo.
Apóio-me em frágeis amores,
falsas bengalas.
Dou-me, renego e volto ao ninho.
Desterro-me,
por amor me degredo.
Provoco minha própria história.
Artesã dos meus dias,
invento falas, mas
aceito desenhos e diálogos.
Desmonto possibilidades.
Faço e me desfaço.
Choro de rir,
mergulho em lágrimas.
Lavo-me. Limpa,
volto aos dias claros.
Renasço das águas,
pobre Afrodite
no tablado da vida,
Fecho as cortinas,
até o novo dia.
Saramar

Imagem: Shell Bell

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