OUTONO


É outono lá fora e em mim, amarelam palavras
de amor, cansadas de se repetir para ninguém.
O amor que imaginei, um eco dos meus desejos,
Sonhos, canções que ninguém ouve, miragens.
Caem as folhas do meu romance, caem tristes.
Os brinquedos que inventei para colorir os dias
quedam-se estéreis. Nem um sorriso se abriu
para o girassol, nem a lua o viu e, apesar dessa
solidão, tudo continua, as estações continuam.
É outono, fez-se enfim a morte que, lá fora, é
promessa de vida, túmulo e ventre do que virá.
Em mim, sonhos, palavras e sementes mortas.
Outono enganado e vão, sem promessa ou chão.

Saramar

Imagem: Rita Afonso

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