LUTAS


Quebrei os elos que adornavam
cruelmente os pés e a mente.
Deixo-me dos amores e me lanço
à letra, ao verbo, ao verso.
Falta-me melodia para estes,
E foi pobre para aqueles.
Ambos são lutas que travo,
perdidas quase sempre.
Quando amava, perambulava cega
pelos amores vários e desvairados.
Nada sabia de impossibilidades,
via barcos nas nuvens e
andava por ruas encantadas
sorrindo para os passantes.
Agora, desprendida dos inebriantes elos,
falo porque, em silêncio, encho-me de agonias.
Quando falo, dúvidas me enredam.
As palavras são outros elos que arrasto
e escorrem estéreis, côncavo vazio.
Curvo-me ao silêncio e às palavras,
novas pelejas, outras quedas,
infinitamente, até a decrepitude.

Saramar


Imagem: Lia Pires

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