VÂNDALO


Chega!
Vou rasgar o verbo, o verso, a cara.
Não entende nada?
Não vê o bulício em meu sangue?
É hora de lançar em você
e ao vento e ao mar
as memórias que deitou em meu corpo,
douradas, elas. Ele, pleno.
Passageiro ocasional,
tomou meus prazeres, mordeu minha carne,
desarrumou-me, e a cama e a alma.
E partiu, deixando minhas
pernas tontas de saudade.
Nas calçadas que pisamos juntos,
Como um fantasma, passa por mim.
Vândalo, cego, fingindo não ver
a fome atroz que carrego.
Saramar

Foto: Ornella Hermínio

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